quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Eu era uma poeta e não sabia

Um apóstrofo, gostaria de dar. Seguintes. Ouve essa música, sente essas cordas do instrumento e fecha os olhos, e finge, finge estar maneando o ar que te rodeia. O que vem são escrituras sobre coisinhas. Sinta (a música) no sentido mais profundo da palavra, o da eternidade. E assim, leia. Só assim. Se puder fazer estas duas coisas ao mesmo tempo seria de bom grado. Obrigada.
Aqui se pula prefácio,
introdução agradecimentos,
aprofundamento do autor,
sumário,
ordem cronológica
notas do editor,
patrocínios 
etc. Aqui o negócio é top.

-Linda! O Pedro vai chegar. 
-Agora? (a cama deixou de ser minha e levanto como quem pensa que as coisas são instantâneas)
-To indo lá buscar ele, ora! Corre. Se tu não se organiza as coisas não andam.
-Esse menino vai mesmo esperar uma hora inteirinha na rodoviária!!??
....
Tempos antes, em uma mansão sentido a quem pega estrada, mais especificamente em um quarto gigantesco rosa, as pernas pro ar dando uma lida intensiva em Machado de Assis. Lá vai ela receber o telefonema. Ele parece uma criança pela voz, ironia do acaso. Acho que era a primeira vez que ele ouvia a voz da garota afinal nos áudios mandados, era só ele que fazia palhaçada ora voltando pra São Bernardo, imitava nordestino, ora falando lindo com um ritmo que ele nem devia saber, mas encantava, falava, falava bonito. Ela não. Odiava a voz tímida tentando ecoar algo pela internet. Mas esse telefonema então chegou como o primeiro aviso.
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Tempos antes... Era época de que existia um parque, existia um arco-íris na fonte, cadeiras de plástico e um grupo vestido de marrom, forasteiros, sobe desce, músicos no canto direito. Olha olha quem tá chegando, tem lugar na frente tem granulado colorido ihhh. é gol. é show, o olhar faz morada como quem cumprimenta com calma e alma, mesmo estas duas estando saindo pela boca, o nome disso é, improviso. 
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Tempos depois, chega-se em casa após um daqueles dias bem modelados, uma noite vai se esfumando e a menina procura. Procura por todos os cantos o nome do grupo, o nome dos integrantes dele, o do menino que queria falar, o que iria falar? Destacar algum ponto positivo da peça, dizer olá bom te ver, ou decididamente mostrar que veio porque achou curioso. Curioso e decidido o momento daquele olhar prolongado que se distanciava da sua nitidez, dizia, fica a vontade, só não sou o murilo rosa que me assemelho. Como falar com alguém que, do nome já sabia, o projeto do qual fazia parte, mas absolutamente nada para brotar entre os dois, nada que sugasse tempo, enrolasse uma conversa, nada de nada? Sem chances.
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Tu não estava na plateia de hoje? Era você não era? Coordenadas a parte mostravam que a recordação era viva. Ele estava frente a pessoas para SER visualizado, ser visto e escutado. Eu, admirando como todos os outros que já haviam se aprochegado, não compartilhava do mesmo suor da pele. Minha calmaria era branda e não fazia a menor ideia do frio de barriga que estas auto-esposições nos enviam. Observava. Só observava tudo aquilo. Agora, convenhamos aqui, ele, não necessitava lembrar de mim. Justo esta técnica de ligar apresentador-expectador era a que se esparramava dentre seus pensamentos.
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Mas vamos! Vamos que os contrastes entre estes dois são bem maiores do que se imagina inicialmente. Eles até que têm uma ideia. São Paulo e Porto Alegre não são vizinhas. 26 e 15 não são números primos. Casos de relacionamento quebrado são intuitivamente diferentes de casos existenciais adolescente. Prorroga-se a coincidência, vamos nos conhecer mais tarde. Ela não deixa este chegar para ve-la do jeito que este queria; diga-se: pós apresentação, pré semana. Na na não. Que elo bonito o tempo não formou? Deixou deste duelo uma flor (um chocolatinho), o contraste se derramou na foto e registrou um sorriso belo.
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Chega de embromação. Vamos então, ao encontro de hora marcada, combinada, aprovada e mirada por um objeto chamado relógio (creio que existam outras dimensões do tempo nesse nosso mundo, mas enfim). Sim, como ia dizendo, estavam os dois a par. E por isso, existia o grito miúdo de uma surpresa, alí, sóó querendo ser feita. Quando chegou do colégio, chamegou na mãe, entendeu que a visita tinha sono pesado... Não demorou muito pra que se vissem. A surpresa foi que os dois teriam coisas em comum, teriam um olhar fixo enquanto conversavam em grupo na sala de estar. Vou tentar descrever. Olhos nos olhos, ele se comunica, e mais, SABE olhar, faz as duas coisas ao mesmo tempo. Tem uma curiosidade que beira a uma onda que quer estilhaçar. A boca com lábios finos faz uma leve contração, como que se unindo a um delineado que, forma um bico, e combinando os olhos fugazes revelam uma brechinha do ser... Ele emanava curiosidade. Ela de repente desviava, por susto. Mas o papo continuava na sala, muito papo bom, e ah, essa brechinha.
Brechinha amarelada
com luz enterrada, tenra
refletida em alguma areia desértica
...

-bom voo.

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