terça-feira, 8 de outubro de 2019

Essa sou eu.

Estou entendendo o meu lugar aqui em São Paulo. Nessa cidade confusa, que ninguém quer vir, mas que eu vim me refugiar.
Sou uma refugiada. Refugiada das emoções. Vim por motivos de sobrevivência para cá.  Porque em Porto Alegre eu estava morrendo devagarsinho. Essa morte lenta tinha que ter o aval e assinatura da minha pessoa, e eu me destruía. Me destruia ao passo que eu sorria e concordava. Ao passo que eu festejava morrendo por dentro. Tentando esconder do mundo o caos que estava na minha mente. Que caos.
Que caos, que se instalou no meu corpo. Na minha surdez.
Eu sou uma guerreira e estou percebendo isso agora. Lutei para conhecer o meu pai, para conhecer a minha história, para ter voz. Para ter poder de escolha. Para ser valorizada pelas minhas decisões.
E agora estou entendendo o meu lugar nessa cidade, que ainda me sinto um pouco presa. As coisas mudam organicamente e seguindo o tom das estações. Aos poucos. Vou me transformando aos pouquinhos.
Quero me conhecer. Saber quem de fato sou, sem ordens dele e sem culpas. Essa sou eu.
Quero pintar meu cabelo, ter meu espaço, criar um estúdio, voltar a ter meus sonhos, ter plantas pela casa, roupas coloridas, quero dançar, quero criar, quero rir. Quero não usar internet, quero a criatividade, quero ter uma coelha. Quero saber também o que eu quero, e ter meu espaço para lutar para isso. De novo, sem ordens.

Quem sou eu?
Será que eu sou essa mesma pessoa sonhadora do perfil do meu blog, que tem uma coelhinha e adora tocar violão?
Será que eu sou Linda Esperanza? Sim. Porque eu sou linda por dentro, porque eu sou ingenua e porque eu sou pura de sentimentos. Porque eu sobrevivi. Eu acreditei sem saber que acreditava. Eu 99% das vezes me sabotei. Sabotei muito. Mas soube na mão reversa criar um antítodo.  Involuntariamente, eu criei a música.
E agora conheci o Nicolas. Ele é um mala, mas me apaixona. Não sei o que dizer sobre ele, sobre seus cabelos loiros, sobre seu jeitinho único de demorar para se entregar. Sobre ele me convidar para entrar no seu espaço, na sua energia. Sobre ele conseguir mostrar a sua carência pra mim e sobre ele abraçar alguém de um jeito que ele nunca abraçava.

Eu gosto do cheiro dele, gosto do espaço que ele criou para ele, da art is freedom, da luz do seu espaço, do seu jeito de me olhar.
E agora não estou tão preocupada sobre escolhas, sobre deixar alguém, sobre ficar com outro. Estou vivendo minhas emoções, tendo segredos que eu posso contar só para mim... Vivendo amores, paixões, coisas lindas. Que eu quero dividir comigo. Quero criar uma relação de amor comigo. Ah, o cheiro dele. Eu sinceramente não sabia que isso surgiria.
Mesmo quando nos conhecemos e saíamos algumas vezes. Mesmo quando ele me emprestava o moletom dele e eu me apaixonava pelo cheiro. Ah, o cheiro dele.
Mesmo assim, mesmo quando ele deixou o aniversário dele para vir me ver. Mesmo quando eu recusei ele me dar carona por receio, ou quando ele me convidou para ir no estúdio dele achando que ele iria me forçar a fazer coisas que eu não queria. Mesmo quando saíamos de carro e ele dizia que não gostava de meninas que usavam tanta maquiagem. Com ele eu me sinto linda de novo.

Linda de novo.
Ele me faz perceber um lado meu que eu não lembrava, que eu nem conhecia de mim.
Enfim. Estou me construindo depois do caos, da guerra, de tantas mortes. Dos dias que acharia que eu iria morrer, das noites que eu não tinha pra onde ir, das vezes que eu alugava um hostel com medo de minha mãe me achar. Eu tinha pesadelos com perseguição. Das vezes que acordava chorando de noite ou quando gritava dormindo "PARA MÃE!". Eu sobrevivi.
Das vezes que eu não tinha amigas, e que mesmo assim pedi para dormi na casa de uma colega. De quando eu falei, "eu vou para são paulo". Da noite que decidi isso, do receio que eu estava, do coração batendo em comprar uma passagem que sairia em uma hora do aeroporto. De não ter uma muda de roupa na minha mochila. De tentar manter a calma no aeroporto, de fazer embarque sozinha, num aeroporto sem ninguém. De viajar sem celular, de me sabotar perdendo o meu dias antes num táxi.
Do medo de me sabotar, do medo do pânico voltar. Eu entrei no avião. Eu vim para São Paulo.
Eu disse para mim mesma "chega", tentando evitar o máximo em pensar na revolução que eu estava fazendo. Evitei muito em ver o que eu estava fazendo. Até o ultimo dia da viagem, até a ultima gota. Não queria ver o continente que eu estava mudando, não queria ver a força que isso teria e do impacto que isso faria em 19 anos de história de mentiras. Eu consegui. Larguei, voei, cheguei, conheci, vim para cá.
Não foi a toa. Nada é a toa.
Essa. Sou. Eu

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